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16/05/2022

Taxas de transplante e doação de rim caíram nos últimos dois anos

Sociedade Brasileira de Urologia lança campanha para estimular doação do órgão e desmistificar falta de informação. A taxa de transplante renal com doador vivo diminuiu 48% entre 2019 e 2021, e com doador falecido, 21%

Como era esperado, a pandemia também impactou a realização de transplantes no Brasil. Em 2021, o índice de transplante renal (22,4 pmp – número de transplantes por milhão de pessoas) ficou 26% abaixo da taxa anterior à pandemia. Para incentivar e esclarecer a doação de rim, a Sociedade Brasileira de Urologia lança no dia 19 de maio a campanha “SBU pela doação de órgãos”.

Presidente da SBU, Dr. Alfredo Canalini explica que a campanha foi criada devido à necessidade de conscientizar a população sobre a doação de órgãos, principalmente no que diz respeito a doadores falecidos. “Especificamente nós, urologistas, sabemos a importância tanto do diagnóstico precoce da doença renal, com a dosagem de creatinina no sangue e o exame de urina, como do atendimento da demanda dos renais crônicos na fila de espera para um transplante renal.”

Quando os rins param de funcionar, o paciente deve se submeter a sessões de hemodiálise, cuja periodicidade pode variar de duas vezes por semana a até diariamente, dependendo do caso do paciente. Cada sessão pode durar de três a cinco horas.

Para uma melhor qualidade de vida, o transplante renal é indicado. A insuficiência renal pode ocorrer devido a problemas como diabetes, pressão alta, inflamação nos vasos que filtram o sangue, doença renal policística, doença autoimune e obstrução do trato urinário.

“Sendo o rim um dos mais frequentes e requisitados entre os órgãos transplantados, a diminuição de doadores impacta sobremaneira a qualidade de vida, incluindo as taxas de sobrevida do paciente renal crônico, e isso nos preocupou bastante. Apesar de algumas equipes contarem com outras especialidades cirúrgicas, o transplante renal é uma das importantes áreas de atuação do urologista e não poderíamos deixar de nos solidarizar com esse problema que afeta diretamente a vida dessas pessoas que dele dependem, e a de suas relações. Por essa razão a SBU resolveu criar essa campanha que pretende se manter permanente, que visa não somente ao período de pandemia, mas a demanda constante por órgãos. Vale dizer também que nossa atuação terá um foco importante na educação e esclarecimento da população, da comunidade médica e agentes de saúde, instruindo como é o processo de seleção, doação, o transplante, em si, incentivando a doação espontânea e a autorizada pelos familiares, incentivo à formação de novos especialistas e também combatendo as fake news”, comenta Dra. Karin Anzolch, diretora de Comunicação da SBU.

Queda nos índices

De acordo com dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), houve uma diminuição no número de doações de órgãos e de transplantes devido à pandemia. “Isso ocorreu principalmente pelo aumento na contraindicação ao transplante na época, pois não se sabia da potencialidade de transmissão do vírus”, explica Dr. John Edney dos Santos, coordenador do Departamento de Transplante Renal da SBU.

Segundo a ABTO, em 2021, o índice de transplante renal (22,4 pmp) ficou 26% abaixo da taxa anterior à pandemia. O transplante renal com doador vivo (2,7 pmp) aumentou 28% quando comparado a 2020, entretanto, ficou 48% abaixo da taxa de 2019 (5,2 pmp). Já a taxa de transplante renal com doador falecido (19,7 pmp) permanece em queda, diminuiu 5% em relação a 2020, e está 21% abaixo da taxa de 2019.

A região Norte foi a mais impactada pela pandemia, realizando apenas 1,7 transplante renal pmp, 17 vezes menos que as regiões Sudeste (31,2 pmp) e Sul (29,7 pmp). Em 2021, no Norte foram apenas 24 transplantes de rim entre doadores falecidos e 7 entre doadores vivos. O Sudeste lidera o ranking na realização de transplantes, com 425 procedimentos entre doadores vivos em 2021 e 2.356 entre falecidos no mesmo ano.

De acordo com dados da ABTO, o Brasil é o quarto país em número absoluto de transplantes renais (entre 35 países) e 15.640 pacientes ingressaram na lista de espera por um rim em 2021, dos quais 3.009 faleceram.

Quando é recomendado

O transplante renal está indicado para pacientes com diagnóstico de insuficiência renal crônica, principalmente aqueles em diálise.

O presidente da SBU destaca que há dois aspectos importantes em casos de insuficiência renal. O diagnóstico tardio, principalmente nos pacientes hipertensos e diabéticos, fazendo com que 95% deles entrem em diálise de urgência; e, nos pacientes já em diálise, ocorre entrada na fila de transplantes. “No Rio de Janeiro temos em torno de 13 mil pacientes em diálise e 1.500 na fila de transplante. No Brasil há algo em torno de 150 mil em diálise e somente 20% deles na fila. E, por lei, todo paciente em diálise tem que ser informado sobre a possibilidade da realização do transplante”, pontua Dr. Canalini.

“Todos os pacientes que possuam condições clínicas para suportar uma cirurgia de transplante, que possuam condições anatômicas favoráveis (vasos sanguíneos em condições de receber o órgão) e que sejam compatíveis nos exames sanguíneos de histocompatibilidade são elegíveis ao transplante”, explica Dr. John dos Santos.

Como doar?

Para que o transplante renal seja realizado, é necessário verificar por meio de exames a compatibilidade entre doador e receptor para que haja menos chances de rejeição. É preciso ter mais de 18 anos e estar em boas condições de saúde.

A doação pode ser feita por doadores vivos ou falecidos. No caso de doadores vivos, é mais comum entre parentes consanguíneos de até quarto grau e cônjuges. Caso o doador não seja um parente próximo, é necessária autorização de um juiz. É possível viver bem com apenas um rim. Nas primeiras 24 horas após a cirurgia, o doador pode sentir dores, que passam com medicação. No dia seguinte, o doador pode começar a caminhar e após cerca de uma semana serão retirados os pontos. A alta geralmente é concedida três dias após a cirurgia.

Quando se trata de doadores falecidos, o paciente deve ser inscrito no Cadastro Técnico Único do Ministério da Saúde e o cadastro é realizado pela equipe médica de transplante responsável pelo atendimento do paciente.

A distribuição de órgãos doados é controlada pelo Sistema Nacional de Transplante do Ministério da Saúde e pelas Centrais Estaduais de Transplantes.

A equipe que realiza o transplante renal é multidisciplinar, participam nefrologista, urologista, cirurgião vascular, cirurgião geral e anestesista. Outros especialistas de suporte, como intensivista e radiologista, também podem participar.

“A SBU, com sua Escola Superior de Urologia, participou de toda a padronização das rotinas e protocolos para a realização da campanha, com foco principal nos resultados e pacientes. Mantendo essa equipe multidisciplinar, atuando de forma harmônica e reciclando periodicamente com curso de educação continuada”, pontua Dr. Roni Fernandes, vice-presidente da SBU.

Se você deseja que seus órgãos sejam doados após a sua morte, avise para a sua família para que ela possa autorizar a retirada dos órgãos.

Importância da informação

Uma das dificuldades da doação de órgãos está na desinformação e receio dos familiares de falecidos. “Temos que combater informações equivocadas sobre a captação dos órgãos de doadores falecidos. A Lei 9.434/1997, que rege o processo de captação e enxerto de órgãos e tecidos, além das informações abertas ao público sobre as filas de transplante, garante a transparência e a licitude de todo o processo. Somente com a informação constante será possível conscientizar a população sobre a importância desse assunto e enaltecer a generosidade da doação de órgãos”, ressalta Dr. Canalini.

“Cada paciente transplantado tem a chance de sair da hemodiálise e obter uma melhor qualidade de vida, bem como de ajudar o sistema de saúde na diminuição das listas. Para as famílias que recebem e para a própria sociedade, os ganhos obtidos com a doação são imensos e difíceis de medir somente com palavras”, completa Dr. John.

Diretor da Escola Superior de Urologia, Dr. Ubirajara Barroso Jr. destaca que doar órgão é um ato de amor com o próximo e de civilidade. “Doando órgãos damos chance ao outro para que possa não somente ter uma vida mais longa, mas com mais qualidade de vida. A SBU cumpre a sua missão de ajudar os pacientes educando médicos urologistas e promovendo campanhas como essa.”

*Gráficos disponíveis em https://site.abto.org.br/wp-content/uploads/2022/03/leitura_compressed-1.pdf

 

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