Veja o que foi destaque do primeiro dia do CBU 2025
Confira alguns destaques do primeiro dia de congresso.
Epidemia silenciosa: o desafio global das ISTs com mais de 1 milhão de novos casos diários
As ISTs constituem um dos mais urgentes problemas de saúde pública em escala global, com mais de um milhão de novas infecções a cada dia. Apesar da magnitude, a real incidência e suas tendências são ofuscadas por uma severa subnotificação. Dr. José Milton Guimarães, chefe do Serviço de Urologia do Hospital Adventista de Manaus, revelou um cenário complexo que exige ações imediatas e localizadas para atingir as metas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Prioridades da OMS até 2030:
1. Reduzir em 90% a incidência de sífilis e gonorreia.
2. Reduzir em 50% o número de novos casos das ISTs curáveis.
3. Eliminar a transmissão vertical de sífilis e HIV.
4. Ampliar o acesso à vacinação contra o HPV.
5. Controlar a resistência antimicrobiana, especialmente em gonorreia.
A carga das ISTs permanece elevada e heterogênea, exigindo respostas urgentes e adaptadas às realidades epidemiológicas de cada localidade.
Pesquisas confirmam tendência de queda na fertilidade masculina global
"A fertilidade masculina está em queda? Sim." Com essa resposta direta, Dr. Daniel Suslik Zylbersztejn, coordenador do Departamento de Urologia do Adolescente da SBU e coordenador médico do Fleury Fertilidade, apresentou um corpo robusto de evidências que indicam um declínio significativo e contínuo na produção de espermatozoides ao longo das últimas décadas.
A apresentação revisitou estudos históricos, começando com a metanálise seminal de Carlsen et al. (1992), que avaliou 61 estudos publicados entre 1938 e 1991. A análise incluiu 14.947 homens e revelou uma queda na concentração média de espermatozoides de 113 milhões/mL em 1940 para 66 milhões/mL em 1990, uma redução de quase 50%. O volume seminal médio também diminuiu de 3,40 mL para 2,75 mL no mesmo período.
Estudos subsequentes confirmaram essa tendência. Uma reanálise por Swan et al. demonstrou que o declínio não era um artefato de viés ou análise estatística e era mais pronunciado em países ocidentais (EUA, Europa, Austrália). Uma análise mais recente de 54 estudos europeus (1965-2015) mostrou uma redução de 32% na concentração média de espermatozoides nesse período.
Causas do declínio:
As principais causas para essa queda progressiva estão ligadas a fatores ambientais e ao estilo de vida moderno. Ele citou a exposição a:
• Fertilizantes agrícolas e pesticidas;
• Resíduos químicos industriais e esgoto urbano;
• Resíduos plásticos (desreguladores endócrinos);
• Partículas tóxicas suspensas na atmosfera.
"Atualmente, 2,4 bilhões de pessoas são expostas a níveis prejudiciais de poluição, e 99% da população mundial respira poluentes acima do permitido pela OMS", destacou.
Embora tenha reconhecido que as pesquisas são metanálises de estudos heterogêneos, com diferentes métodos de análise seminal ao longo do tempo, a consistência dos achados aponta para uma realidade preocupante. Ele concluiu que o potencial de fertilidade pode estar sendo afetado não apenas pela queda quantitativa, mas também pela deterioração da qualidade dos espermatozoides, como o aumento da fragmentação do DNA espermático.
Segurança jurídica e ética na cirurgia afirmativa de gênero
Dr. Patric Tavares, MD, MSc, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, delineou o robusto arcabouço legal e normativo que rege a cirurgia afirmativa de gênero no Brasil, enfatizando os direitos dos pacientes e as responsabilidades dos profissionais de saúde.
Fundamentos Legais e Normativos:
• Direito à Identidade de Gênero: É um direito da personalidade, garantido pelos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, igualdade e liberdade.
• Decisão do STF (2018): O Supremo Tribunal Federal (ADI 4275 e RE 670422) estabeleceu que pessoas trans podem alterar nome e gênero no registro civil sem a necessidade de cirurgia ou autorização judicial. A cirurgia é um direito de acesso à saúde, não um requisito legal.
• Regulamentação no SUS: A Portaria nº 2.803/2013 do Ministério da Saúde regulamenta o Processo Transexualizador, que inclui acompanhamento multiprofissional, terapia hormonal e cirurgias como mastectomia, neofaloplastia e vaginoplastia.
• Normas do CFM: A Resolução CFM nº 2.265/2019 atualiza os critérios para a prática médica, estabelecendo a obrigatoriedade do consentimento informado e do acompanhamento psicológico.
Relação intrínseca entre ejaculação precoce, ansiedade e outras disfunções sexuais
Em uma análise aprofundada sobre a saúde sexual masculina, Dr. Sidney Glina, professor de Urologia e Pró-Reitor de Pesquisa, Pesquisa e Inovação do Centro Universitário em Saúde do ABC, esclarece a complexa interação entre a Ejaculação Precoce (EP), fatores psicológicos e outras disfunções sexuais. A apresentação destaca que a EP é a principal disfunção sexual em homens jovens, afetando entre 25% a 40% da população masculina em algum momento da vida.
A Prevalência e Definição da Ejaculação Precoce
A ejaculação precoce é definida por um conjunto de critérios que incluem a redução do Tempo de Latência Intravaginal Ejaculatória (TLIV), a falta de controle sobre a ejaculação e as consequências emocionais subsequentes, como insatisfação, sofrimento e frustração. Estudos indicam que a condição é amplamente prevalente, com dados mostrando que 19% dos homens americanos relatam ter EP. A condição é particularmente notável como a principal disfunção sexual entre o público masculino mais jovem.
O papel central da ansiedade
Um dos pilares da discussão é a conexão direta entre ansiedade e ejaculação precoce. Segundo o Dr. Glina, “A ansiedade é considerada um fator chave no desenvolvimento e na manutenção da EP, mas o mecanismo cerebral não é conhecido."
Impacto na qualidade de vida e nos relacionamentos
O impacto da EP transcende a experiência individual, afetando significativamente os relacionamentos e a qualidade de vida geral. Um estudo observacional com 207 homens com EP (e suas parceiras) demonstrou que:
• Satisfação sexual: Tanto os homens quanto suas parceiras relataram índices mais baixos de satisfação sexual.
• Sofrimento psicológico: Foram observados maiores índices de sofrimento (“distress”) pessoal e dificuldades no relacionamento.
• Qualidade de vida: De forma geral, a qualidade de vida foi percebida como pior por aqueles afetados pela condição.
A coexistência com outras disfunções sexuais
Dr. Glina enfatiza que a ejaculação precoce frequentemente coexiste com outras disfunções sexuais, exigindo uma avaliação cuidadosa para um diagnóstico preciso.
• Disfunção Erétil (DE): A associação com a DE é comum. O medo de perder a ereção aumenta a ansiedade, o que pode acelerar a ejaculação. Um sentimento frequentemente expresso por pacientes é: “Dr., tenho tido medo de perder a ereção e por isto tenho ejaculado rápido!”. A EP pode ser tanto um fator de risco para a DE quanto uma consequência dela.
• Baixo desejo sexual: A diminuição da libido pode ser tanto uma causa quanto uma consequência da EP e do estresse associado.
• Doença de Peyronie e dor peniana: Condições que causam dor ou deformidade peniana podem aumentar a ansiedade e prejudicar o controle ejaculatório.
Texto: Dr. Henrique Vieira
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