Dia Internacional da Mulher: a história de três pioneiras na Urologia
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Nesta semana celebramos o Dia Internacional da Mulher, e a SBU homenageia as Orquídeas (como são chamadas carinhosamente as urologistas mulheres) contando a história de três pioneiras: Dras. Beatriz Cabral, uma das primeiras urologistas brasileiras, Raquel Esther Hermosilla Nuñez, primeira a se formar na especialidade na residência do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, de Mato Grosso do Sul, e Natacha Gêmo, que será a primeira urologista em Moçambique. Três mulheres decididas que venceram obstáculos e estão abrindo as portas da especialidade para tantas outras.
De acordo com os dados da última Demografia Médica (2023), da AMB, elas representam 2,9% dos urologistas, somando 171 médicas – sendo proporcionalmente a especialidade com o menor número de mulheres no Brasil. São poucas, porém unidas. Por meio de um grupo no WhatsApp dividem histórias e vivências na área.
Formada em 1982 pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, Dra. Beatriz Cabral fica feliz e agradecida ao lembrar que não sentiu resistência por parte de outros colegas na sua formação e, sim, se inspirou em muitos deles, que lhe foram exemplo, tais como os Drs. Antônio Carlos Pereira Martins, Haylton Jorge Suaid, Adalto Cologna, Jeová Nina Rocha, Silvio Tuzzi, Rui Yamazaki e Minoru Morihisa. “Fui muito bem recebida, eles eram pessoas boníssimas, competentíssimas e tinham a vocação para ensinar. Eram pessoas muito camaradas e humanas”, descreve.
“Sempre ouvi do meu pai: 'Na vida procure fazer o que você gosta, porque aí você se dedicará muito e fará muito bem’. Então foi pensando nisso que eu fui observando durante todo o meu estudo na escola de medicina os locais em que eu gostava daquela atividade médica”, esclarece a escolha pela Urologia.
Dra. Beatriz conta que não sofreu desrespeito por parte de colegas, mas, sim, na prática médica pelos pacientes que não queriam ser examinados por uma mulher. “Acho isso compreensível. O paciente tem o seu pudor e se sente envergonhado, assim como as mulheres sentem vergonha de serem examinadas por homens. Temos que ver com compreensão.”
A médica deixa um conselho para as jovens urologistas: "Coloque a relação médico-paciente sempre em primeiro lugar. Se essa elação não for boa, respeitosa, e não houver confiança, dispense o paciente. Não tenha medo de dispensar seu paciente. Paciente que não faz o que você prescreve, não obedece ao tratamento e não a respeita por causa disso, aquele paciente que tenta manipular o que ele quer que você faça e não o que deve ser feito. Esse paciente só vai lhe trazer problemas".
Mato Grosso do Sul forma primeira urologista
O ano de 2025 ficará marcado no programa de residência de Urologia do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HUMAP-UFMS/EBSERH), vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). A Dra. Raquel Esther Hermosilla Nuñez foi a primeira mulher a se formar na especialidade.
Dra. Raquel possui dupla nacionalidade, brasileira e paraguaia. Formou-se em Medicina no Paraguai e concluiu sua residência médica em Cirurgia Geral também naquele país. Após trabalhar como médica no Paraguai, tomou a decisão desafiadora de emigrar para o Brasil em busca de novas oportunidades. Aqui, revalidou seu diploma e, com muita dedicação, fez novamente a residência em Cirurgia Geral. Posteriormente, ingressou na residência médica em Urologia no HUMAP-UFMS, consolidando sua trajetória de crescimento e superação.
“Ser a única médica mulher estrangeira em um programa de residência em Urologia é, ao mesmo tempo, um grande desafio e uma imensa honra. Desde o início da minha trajetória na medicina, sempre soube que escolher uma especialidade cirúrgica significaria enfrentar obstáculos, mas nunca deixei que isso me desmotivasse”, enfatiza Dra. Raquel.
Durante sua trajetória no programa, Dra. Raquel destacou-se pelo profissionalismo, pela ética e pelo compromisso com a qualidade do cuidado aos pacientes. Sua história é também a de uma jornada dupla, na qual conciliou a intensa rotina médica com as responsabilidades familiares, como mãe e médica estrangeira em um novo país.
A Urologia, tradicionalmente dominada por homens, exige precisão, habilidade técnica e um olhar atento para o bem-estar dos pacientes. “Cada cirurgia bem-sucedida, cada paciente atendido e cada obstáculo superado reforçam minha paixão pela especialidade e meu compromisso com a excelência.” Além dos desafios da profissão, ser estrangeira adicionou barreiras de adaptação cultural e linguística, tornando o caminho ainda mais complexo, mas também mais enriquecedor.
“Minha presença na residência não é apenas um marco pessoal, mas também um símbolo de mudança. Quero inspirar outras mulheres a seguirem seus sonhos, independentemente das barreiras que possam encontrar. A medicina precisa de diversidade, de diferentes perspectivas e de mais mulheres em áreas cirúrgicas.”
(Trecho da Dra. Raquel Esther Hermosilla Nuñez foi escrito pelo Dr. Henrique Rodrigues Scherer Coelho)
A primeira urologista moçambicana
Moçambique ganhará em breve sua primeira urologista mulher para reforçar seu reduzido time de especialistas, que atualmente só conta com oito profissionais, todos homens.
Dra. Natacha Gêmo concluiu a residência em Cirurgia Geral em 2018 e em 2022 iniciou a Urologia no Hospital Central de Maputo, em Moçambique. Mas em 2023 tomou a decisão de conhecer como atuava a Urologia brasileira.
"Como Moçambique é um país que tem limitações no ensino da residência em Urologia e material técnico – há apenas oito urologistas moçambicanos para 33 milhões de habitantes –, em 2023 vim conhecer por meios próprios como funcionava a Urologia brasileira. Fiz estágio de três meses no Hospital A.C. Camargo, com a equipe liderada pelo Prof. Stênio Zequi, e no Hospital Santa Marcelina, com o Prof. Marcos Dall’Oglio. Percebi que no Brasil teria um acesso melhor para o aprendizado da Urologia, e também fui muito bem acolhida pelos professores Marcos Dall’Oglio, Stênio Zequi, Marcello Schettino, Lawrence Tipo e Paulo Palma e pelas Orquídeas, em especial as Dras. Karin Anzolch, Maria Cláudia Bicudo e Barbara Melão”, conta a futura urologista.
Dra. Natacha tomou a decisão de seguir a Urologia pelo desejo de poder contribuir para aliviar o sofrimento dos moçambicanos. “Tenho dois principais objetivos: o primeiro é tratar pessoas que possuem enfermidades urológicas e limitação de suas vidas. O segundo, para que possa voltar em condições de ajudar efetivamente o meu país no exercício da medicina e na formação de novos urologistas, em particular mulheres para que, como as Orquídeas aqui do Brasil, possamos florescer a Urologia moçambicana.”
De acordo com a residente, apesar de ser a pioneira na Urologia no seu país, não sofreu preconceito por sua decisão. “Em Moçambique não existe mulher urologista, por existir um estigma de que Urologia é para homens, talvez seja esse motivo da fraca adesão de mulheres, no entanto, pode ter sido uma surpresa, mas não encontrei resistência ou dificuldade em ser aceita. E aqui no Brasil sempre fui muito bem acolhida e me incentivaram a seguir em frente. Agora quero finalizar minha formação urológica no Brasil para retornar e contribuir para o meu país”, destaca.
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