A vacinação é uma das intervenções com maior sucesso e melhor custo-benefício no combate às doenças infecciosas, prevenindo cerca de 2,5 milhões de mortes todos os anos. Contudo, as doenças imunopreveníveis continuam sendo uma das principais causas de morbidade e mortalidade entre adolescentes e adultos jovens.

A imunização do adolescente oferece inúmeros benefícios, como a possibilidade de aplicar vacinas não administradas na infância, promover o aumento da imunidade em declínio associada a vacinas anteriormente aplicadas, permitir a imunização primária com novas vacinas, além de ainda contribuir para a proteção coletiva, conhecida como imunidade de rebanho. Dessa forma, a vacinação na adolescência é uma oportunidade de estímulo ao comportamento seguro.

As vacinas aplicadas na adolescência incluem, entre outras, contra HPV, tétano, difteria e coqueluche e meningite. Ademais, as vacinas contra varicela, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e hepatites A e B também podem ser administradas para aqueles que não as receberam na infância.

É importante frisar que ótimas taxas de cobertura vacinal entre adolescentes promovem tanto a redução da morbidade e da mortalidade associadas às doenças imunopreveníveis quanto a diminuição da disseminação dessas doenças para crianças e idosos. A vacinação, reconhecida como um direito humano à saúde, é de responsabilidade não só governamental, como também comunitária e individual.

Saiba as principais vacinas recomendadas na adolescência:

HPV

A vacina contra o HPV, já com uma década de uso, dispõe de dados suficientes sobre a sua eficácia e segurança, com resultados muito positivos em relação ao impacto promovido na saúde pública nos países que a introduziram em seus programas. Recomenda-se sua aplicação o mais precocemente possível, de preferência na faixa etária entre 9 a 14 anos, que é o período em que temos uma resposta imune mais eficiente. Para esse grupo, a vacina é realizada em duas doses com intervalo de 6 meses entre elas (0 e 6 meses). Já para adolescentes com idade igual ou superior a 15 anos e não imunizados anteriormente, o esquema é de três doses (0, 2 meses e 6 meses). Vale ressaltar que os meninos devem sempre receber a vacina quadrivalente.

Tétano, difteria e coqueluche    

A vacina tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (contra tétano, difteria e coqueluche – dTpa) deve ser atualizada na adolescência. Isso porque os anticorpos (moléculas que combatem o agente infeccioso) gerados por essa vacina, rotineiramente aplicada na infância, declinam com o passar do tempo, sendo necessário um reforço a cada dez anos para manter o indivíduo protegido. É importante lembrar que uma história de coqueluche anterior não elimina a recomendação da vacina, uma vez que a doença não oferece proteção permanente.

Doença meningocócica

A vacinação contra o meningococo é altamente recomendada na adolescência. Um estudo realizado no Brasil em 2015 mostrou que 9,9% dos adolescentes abrigam o meningococo em nasofaringe. Ainda que não apresentem a doença, esse estado de portador traz um risco potencial de infecção. Além disso, como a doença meningocócica tem evolução clínica rápida e grave, é necessário que sejam mantidos altos níveis de anticorpos circulantes para uma proteção efetiva. Esses dados corroboram a indicação de uma dose de reforço da vacina meningocócica ACWY na adolescência para os adolescentes vacinados previamente na infância. Já para aqueles que nunca foram imunizados, são recomendadas duas doses dessa vacina com intervalo de cinco anos entre elas.

Em 2016, o Comitê de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos passou a recomendar também a vacinação de adolescentes contra o meningococo B, agente não contemplado na vacina ACWY. Essa conduta também foi adotada pela Sociedade Brasileira de Imunizações, no esquema de duas doses com intervalo de dois meses entre elas.

Sarampo, caxumba e rubéola

A necessidade de manter a vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola (tríplice viral) atualizada é fundamental, em especial diante dos surtos recentes de sarampo e caxumba ocorridos no Brasil e no mundo, tendo a caxumba acometido, principalmente, adolescentes e adultos jovens.

É considerado devidamente imunizado o adolescente que recebeu duas doses da vacina tríplice viral acima dos 12 meses de vida, com intervalo mínimo de um mês entre elas. É importante destacar que, em casos especiais, como situações de surtos de caxumba, recomenda-se uma terceira dose da vacina tríplice viral. Tal conduta foi aprovada pelo Comitê de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos em 2017, após a comprovação da efetividade de uma dose adicional em situações epidêmicas, com uma diminuição em 78% do risco de adquirir a doença.

Para os adolescentes nunca vacinados, o esquema recomendado é de duas doses, com intervalo mínimo de um mês entre elas.

Varicela

A infecção pelo vírus varicela em adolescentes e adultos jovens apresenta evolução clínica mais grave, o que justifica a atualização do cartão vacinal do adolescente que não recebeu essa vacina na infância. Os meninos que receberam duas doses da vacina contra varicela acima dos 12 meses de vida são considerados devidamente imunizados. Já os que não foram vacinados devem receber duas doses com intervalo de três meses entre elas até os 13 anos e, acima dessa faixa etária, com intervalo mínimo de um mês. Aqueles que receberam apenas uma dose na infância devem receber uma segunda dose em qualquer momento.

Hepatites A e B

Os adolescentes não imunizados contra hepatites A e B na infância devem ser vacinados o mais precocemente possível. A maior frequência de refeições fora de casa nessa faixa etária aumenta o risco de infecção pela hepatite A, vírus transmitido por água e alimentos contaminados. Ademais, o início da atividade sexual aumenta o risco de transmissão do vírus da hepatite B.

O esquema vacinal preconizado é de duas doses com intervalo de seis meses entre elas para a hepatite A (0 – 6 meses) e de três doses para a hepatite B (0 – 1 mês – 6 meses). A vacina combinada contra hepatite A e B é uma opção adequada e deve ser administrada em duas doses com intervalo de 6 meses para adolescentes até 16 anos e em três doses (0 – 1 mês– 6 meses) acima dessa idade.

Dra. Isabela Gonzalez, pediatra, especialista em Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo, mestre em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo

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