Qual é a sensação de ter um câncer?
Me chamo Murillo Bernini Costa e tenho 29 anos, mas minha história com o câncer de testículo começou bem mais cedo. Na época da descoberta eu era oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, tinha 23 anos, nunca havia tido contato com ninguém que tivesse experienciado essa doença e não me preocupava com essa hipótese por não existir histórico de câncer na minha família. Entretanto, sempre tive muita informação sobre o tema por ter um irmão, hoje formado, que na época estava cursando a faculdade de medicina.
Lembro-me de ter assistido a uma campanha sobre o câncer de mama durante o Outubro Rosa e ficado com aquilo guardado em minha cabeça, parece que durante meses fiquei recordando a propaganda e me alertando de que o autoexame poderia servir também para os homens, mas sem entender o porquê daquilo. Assim, durante um banho cerca de quatro meses depois, decidi realizar o autoexame despretensiosamente nos meus testículos e percebi que havia uma espécie de “caroço” do lado direito que, naquele momento, não me incomodou tanto.
Após dois meses, ao perceber a evolução do “caroço”, pedi para que meu irmão o examinasse com o fim de sabermos se poderia ser algo preocupante e, para minha surpresa, ele me indicou marcar uma consulta com um médico urologista especializado. No período de três semanas realizei os exames, recebi a notícia de que possuía um carcinoma no testículo direito e realizei a cirurgia de retirada de um dos testículos, colocando uma prótese no lugar do original. Não tive muito tempo para ficar ansioso ou me preocupar, pois meu único foco era estar bem com a minha saúde e me livrar do problema o mais rápido possível.
Tive uma excelente recuperação, mas na época optei por abandonar a função de policial militar por acreditar que não conseguiria retornar com qualidade às atividades rotineiras tendo que me preocupar em acompanhar e tratar do câncer.
Assim, exatamente após um ano da minha cirurgia durante os exames de rotina, recebi a notícia de que o câncer havia gerado uma metástase que atingiu o peritônio. Essa parte do tratamento foi a mais difícil, pois antes da retirada desse segundo tumor tive que passar por várias sessões de quimioterapia. Ainda hoje, existe um grande tabu ao se falar da quimioterapia, pois é um tratamento que debilita muito o paciente, deixando-nos extremamente vulneráveis. Esse é um período extremamente difícil e delicado, que exige muitos cuidados por parte do paciente, mas que é preponderante para uma boa recuperação em relação à doença. Tive muitas vertigens, fraquezas, dores e preocupações durante essa fase, mas sempre acreditei que era apenas um período difícil, porém necessário para que eu nunca mais precisasse me preocupar em ter outro câncer.
Por fim, o tratamento durou aproximadamente quatro meses e, ao completar, tive que esperar por mais dois meses até que minha imunidade voltasse ao normal e pudesse realizar a cirurgia para retirada do tumor. Foi um período extremamente difícil, mas hoje após cinco anos sinto que estou curado e que retornei à minha vida normalmente. Olhando para trás percebo que se não fosse ter realizado o autoexame e escutado a campanha de conscientização, talvez hoje minha história tivesse sido diferente. Vejo que muitas pessoas não têm o hábito de realizar exames ao sentirem dores e desconfortos, mas, no caso do câncer, quanto mais cedo é a descoberta, maiores são as chances de uma recuperação completa em relação à doença.
Hoje com 29 anos, eu vejo o quanto aprendi ao ter que lidar tão cedo com uma doença da qual as pessoas possuem receio de sequer citarem o nome, mas o câncer existe e, quanto mais informação sobre ele tivermos, mais pacientes serão curados e poderão contar sua história de superação assim como eu. Façam o autoexame!
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